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domingo, 30 de junho de 2013

Texto de Frei Beto sobre a atualidade

A plebe e a nobreza


A esperança é que se abram os canais entre a plebe e o trono, o clamor popular encontre ouvidos no castelo, as demandas sejam prontamente atendidas

26/06/2013

Frei Betto

Era uma vez um reino governado por um rei despótico. Sua majestade oprimia os súditos e mandava prender, torturar, assassinar quem lhe fizesse oposição. O reino de terror prolongou-se por 21 anos.

Os plebeus, inconformados, reagiram ao déspota. Provaram que ele estava nu, denunciaram suas atrocidades, ocuparam os caminhos e as praças do reino, até que o rei perdesse a coroa.

Vários ministros do rei deposto ocuparam sucessivamente o trono, sem que as condições econômicas dos súditos conhecessem melhoras. Decidiu-se inclusive mudar a moeda e batizar a nova com um título nobiliárquico: real.

Tal medida, se não trouxe benefícios expressivos à plebe, ao menos reduziu as turbulências que, com frequência, afetavam as finanças da corte.

Ainda insatisfeita, a plebe logrou conduzir ao trono um dos seus. Uma vez coroado, o rei plebeu tratou de combater a fome no reino, facilitar créditos aos súditos, desonerar produtos de primeira necessidade, ao mesmo tempo em que favorecia os negócios de duques, condes e barões, sem atender aos apelos dos servos que labutavam nas terras de extensos feudos e clamavam pelo direito de possuir a própria gleba.

O reino obteve, de fato, sucessivas melhoras com o rei plebeu. Este, porém, aos poucos deixou de dar ouvidos à vassalagem comum e cercou-se de nobres e senhores feudais, de quem escutava conselhos e beneficiava com recursos do tesouro real. Obras suntuosas foram erguidas, devastando matas, poluindo rios e, o mais grave, ameaçando a vida dos primitivos habitantes do reino.

Para assegurar-se no poder, a casa real fez um pacto com todas as estirpes de sangue azul, ainda que muitos tivessem os dedos multiplicados sobre o tesouro real.

Do lado de fora do castelo, os plebeus sentiam-se contemplados por melhorias de vida, viam a miséria se reduzir, tinham até acesso a créditos para adquirirem carruagens próprias.

Porém, uma insatisfação pairava no reino. Os vassalos eram conduzidos ao trabalho em carroças apertadas e pagavam caros reais pelo transporte precário. As escolas quase nada ensinavam além do beabá, e os cuidados com a saúde eram tão inacessíveis quanto as joias da coroa. Em caso de doença, os súditos padeciam, além das dores do mal que os afetava, o descaso da casa real e a inoperância de um SUStema que, com frequência, matava na fila o paciente em busca de cura.

Os plebeus se queixavam. Mas a casa real não dava ouvidos, exceto aos aplausos refletidos nas pesquisas realizadas pelos arautos do reino.

O castelo isolou-se do clamor dos súditos, sobretudo depois que o rei abdicou em favor da rainha. Infestado de crocodilos o fosso em torno, as pontes levadiças foram recolhidas e as audiências com os representantes da plebe canceladas ou, quando muito, concedidas por um afável ministro que quase nenhum poder tinha para mudar o rumo das coisas.

Em meados do ano, a corte promoveu, com grande alarde, os jogos reais. Vieram atletas de todos os recantos do mundo. Arenas magníficas foram construídas em tempo recorde, e o tesouro real fez a alegria e a fortuna de muitos que orçavam um e embolsavam cem.

Foi então que o caldo entornou. A plebe, inconformada com o alto preço dos ingressos e o aumento dos bilhetes de transporte em carroças, ocupou caminhos e praças. Pesou ainda a indignação frente a impunidade dos corruptos e a tentativa de calar os defensores dos direitos dos súditos contra os abusos dos nobres.

A vassalagem queria mais: educação da qualidade à que se oferecia aos filhos da nobreza; saúde assegurada a todos; controle do dragão inflacionário cuja bocarra voltara a vomitar chamas ameaçadoras, capazes de calcinar, em poucos minutos, os parcos reais de que dispunha a plebe.

Então a casa real acordou! Archotes foram acesos no castelo. A rainha, perplexa, buscou conselhos junto ao rei que abdicara. Os preços dos bilhetes de carroças foram logo reduzidos.

Agora, o reino, em meio à turbulência, lembra que o povo existe e detém um poder invencível. O castelo promete abrir o diálogo com representantes da plebe. Príncipes hostis à rainha ameaçam tomar-lhe o trono. Paira no horizonte o perigo de algum déspota se valer do descontentamento popular para, de novo, impor ao reino o regime de terror.

A esperança é que se abram os canais entre a plebe e o trono, o clamor popular encontre ouvidos no castelo, as demandas sejam prontamente atendidas.

Sobretudo, dê a casa real ouvidos à voz dos jovens reinóis que ainda não sabem como transformar sua indignação e revolta em propostas e projetos de uma verdadeira democracia, para que não haja o risco de retornarem ao castelo déspotas corruptos e demagogos, lacaios dos senhores feudais e de casas reais estrangeiras.

 Frei Betto é escritor, autor de "Aldeia do silêncio" (Rocco), entre outros livros.



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Políticas Públicas, Artes Públicas, Insurreição pública

 

Respirar por um canudo.  Técnica de sobrevivência sub aquática por mim usada durante a ditadura militar para não chamar a atenção, mas também para não morrer afogado. Assim, com oxigenação ainda que precária, consegui não parar de trabalhar e não me deixei cooptar. Não foi preciso.  Havia visto em muitos filmes de Hollyhood o herói astuto escapar de seu perseguidor assassino usando este subterfúgio. Ficar imóvel, em silencio debaixo d'água enquanto o inimigo passa. Respirando por um canudo.

 

O retorno a superfície foi lento e cuidadoso.   Os pulmões foram aos poucos respirando os ares da liberdade. Algumas asfixias, alguns sufocos na vida brasileira, mas nada que pudesse impedir finalmente uma oxigenação de qualidade.  Respirar a plenos pulmões só no período FHC e total oxigenação aeróbica na era Lula.  Trabalho nas ruas há 33 anos.  O descaso da era Collor pela cultura deixou  espaços vazios  na vida cultural do País que me permitiram avançar por toda a era FHC, até o melancólico final de seu segundo mandato.

 

O início da era Lula  trouxe novas esperanças e novos horizontes. Era a primeira vez que havia alternância verdadeira de poder na vida pública brasileira, democrática, republicana.  Me animei, mas também temi. Nosso principal espetáculo, meu e do Tá na Rua, durante o mandato do presidente Lula foi "Dar não dói, o que dói é resistir".  Contava, em praça pública, a história do golpe militar, da implantação da ditadura, e de como os artistas brasileiros mais importantes, tinham enfrentado a difícil  situação. Era sobre a resistência da vida cultural  à tentativa de  achatamento dela, pelo controle dos meios de comunicação, quaisquer que fossem!

 

Nosso oficio, os artistas, os criadores, repousa sobre a doação, generosidade.   Assim, dar faz parte da atividade artística, e é fonte de prazer e não de dor. Dores só a da criação!! Mas quando por um problema qualquer este gesto amoroso é atacado você precisa se defender e o prazer se transforma em dor. Resistir dói; é o contrario do ato amoroso.

 

O espetáculo era sobre isso e sobre os males de uma ditadura, mas era também para alertar as pessoas do que tinha se passado, já que até aquele momento pouco se falava sobre o assunto, principalmente no teatro e no cinema.

 

Queríamos lembrar para que não voltasse a acontecer, principalmente naquele momento em que um operário se elegia presidente de um país democrático  do ocidente, na America Latina.

 

 O espetáculo servia também para  nós todos, como exercício de democracia e liberdade, para que finalmente nos habituássemos a nova realidade. Não se volta a tona depois de anos submerso  sem um  necessário tempo de readaptação à vida na superfície. Achávamos  que isso era importante para  nós e para o país, que  poderíamos  viver novas  e surpreendentes possibilidades.

 

A conquista  do voto direto,  mais vinte anos de democracia plena e vida política e cultural estável, com as dificuldades naturais de um regime republicano atribulado,  nos ensinariam  a sonhar com novas Utopias, já com o cérebro oxigenado por camadas de ares democráticos, respiradas em plena atmosfera de liberdade. O sonho cresceu, o  cérebro bem oxigenado iluminou nossas praticas. A liberdade nos ensinou a sonhar com uma vida pública de mais qualidade.  Começamos a pensar  Arte Pública.

 

Arte Pública é aquela que não se vende e nem se compra, e que se realiza em contato direto do artista e/ou sua obra com a população, em qualquer lugar e sem discriminação de nenhuma espécie.

 

 É uma idéia muito antiga pois a arte sempre foi  produção de obra pública, feita por particular. Nasce pública, pois é essa a sua vocação. Só se privatiza nos últimos séculos, especialmente em nosso tempo, com o conceito da chamada "economia de mercado".

 

Mas apesar de sua ancestralidade, sua importância, pra  nós obvia, a arte publica não tem nem o respeito,  nem o olhar  das pessoas que costumam ver tudo que é publico como ruim.

 

Arte Pública, banheiro público, saúde publica, educação publica,  repartição pública, segurança publica, espaço público. A ressonância ou reverberação pejorativa são evidentes e inconfundíveis. Até o investimento  público procura atender sempre os interesses privados e serviços públicos de extrema importância são "regularmente" privatizados. O investimento público a fundo perdido para o bem da coletividade  é sempre mal visto.   Nossas antenas não estão voltadas para o que é público, e sim para o que é privado.

 

Só vale dinheiro ou  merece dinheiro o que rende dinheiro.

 

Por isso também é uma idéia muito nova, pois vai na contramão das  tendências mercadológicas. Na verdade é um antídoto contra esta  dolorosa  forma de "privatização" da produção artística. Apesar das políticas de inclusão cultural deste governo, maiores que outros, o conceito de Arte Pública nunca foi objeto de reflexão de seus gestores, nem faz parte da formulação de políticas culturais de nenhum governo. De "esquerda" ou de "direita".  Arte Pública é uma produção histórica da vida cultural brasileira, de baixo para cima e de dentro para fora. É histórico, não é ideológico!

 

Só podemos perceber a historia em movimento se pudermos viver e conviver em plena liberdade econômica, política e social. Nos atrevemos a pensar muito adiante , porque  vivemos em um regime de plena liberdade artística e política.

 

Só a liberdade nos permitiu chegar aonde chegamos, com o movimento de Arte Pública no Brasil.

 

E é por estas liberdades  que eu temo quando vejo as ruas por onde eu trabalho ocupada por multidões na mais que   justa  reivindicação de seus direitos, públicos as vezes, ou privados outras vezes.  

 

Não é mais o Teatro ou as Artes públicas que no momento invadem os espaços públicos, mas a própria população. Às vezes em ordem outras vezes em caos. As  artérias da cidade por onde avançávamos oxigenando seu sangue, agora se encontram sob grande pressão e  correndo o risco de provocar obstruções ou derrames cardiovasculares capazes de produzir seqüelas irreparáveis na vida publica. Precisamos zelar pela saúde da vida pública, avançar em nossas conquistas e níveis de organização, e esperar  que  dentro do mais  curto espaço de tempo as artes públicas possam voltar as ruas da cidade, e ajudá-la a  recuperar,  já  em grau superior, o equilíbrio necessário para a construção de uma "Polis"   onde a necessidade humana de viver em coletividade esteja contemplada, estimulando convívio, urbanidade, horizontalização nas relações. Sem discriminações.

 

Que o desequilíbrio momentâneo se transforme em novo equilíbrio das forças sociais, sem predomínio de grupos ou "facções" para que  a harmonia se  estabeleça e a  convivência  urbana ganhe qualidade. Afinal, não é isso a política? A organização da Polis?

 

Organização que se faz alem  dos indivíduos, para os indivíduos, por pessoas por eles  escolhidas para tal função a partir  da delegação  de poderes a elas para que resolvam os problemas que dizem respeito a todos enquanto resolvemos os nossos cotidiano; As vezes, quase sempre,  aqueles a quem delegamos estes poderes, cheios de boas ou más intenções, não conseguem estabelecer padrões de políticas publicas que possam agradar a todos. Portanto não se tornam merecedores de  nossa gratidão nem de nossa admiração,  nem de nosso respeito,  como na ditadura por exemplo. Para corrigir esta chamada distorção o ser humano inventou o voto. Com a derrubada  da ditadura  o brasileiro recuperou   sua capacidade de escolher da melhor maneira possível o seu destino.

 

Esta conquista é essencial.  Nenhum  poder usurpado poderá ser respeitado, assim como nenhum  poder  outorgado através do voto poderá ser revogado, a não ser por intermédio de  eleições regularmente realizadas como é o caso do Brasil. As exceções estão previstas em lei.

 

Desejamos crer que as atuais reivindicações tenham em seu cerne o impulso de generosidade publica que caracteriza a natureza  das artes   em geral.  Tudo para todos. E que tudo isto possa fazer o país avançar em direção a um mundo de entendimento e justiça social onde os privilégios não massacrem os direitos da livre cidadania. O Brasil está se reconstruindo, ainda melhor, graças as liberdades conquistadas nas últimas décadas. Somente a liberdade  poderá nos conduzir a um mundo melhor. Se a perdermos estaremos condenados a uma insuportável obscuridade e seremos obrigados a ficar submersos respirando por canudos para o resto da vida.

 

Os melhores anos de minha vida eu passei submerso respirando  por canudos. Não quero agora depois de tantas conquistas públicas, passar o que me resta de vida atormentado por estas questões. Quero pensar adiante, muito adiante.  O futuro só acontece no presente.

 

Estamos cheios de força para propor, para dar. O que dói será ter que resistir.

 

Olho vivo!!!

Amir Haddad


PODE SER A GOTA D'ÁGUA - Mauro Iasi

Pode ser a gota d'água: enfrentar a direita avançando a luta socialista

Mauro Iasi *

 

            O mundo se move sob nossos pés, as velhas formas se rompem, surgem novas e as contradições que se acumulavam explodem buscando o caminho necessário, encontrando sua forma de expressão.

            A explosão social que abalou o país brotou do terreno escondido das contradições. Lá para onde se costuma exilar as contradições incômodas: a miséria, a dissidência, a alteridade, a feiúra, a violência. Germinaram no terreno do invisível, escondido e escamoteado pela neblina ideológica e o marketing cosmético que epidermicamente encobre a carne pobre da ordem capitalista com grossas camadas de justificativa hipócrita, de cinismo laudatório de uma sociabilidade moribunda.

            As autoridades, os especialistas, sociólogos, politicólogos e jornalistas estão perdidos dando razão à dissertativa atribuída à Marx segundo a qual "a história só surpreende quem de história nada entende". Declamam seu espanto querendo acreditar na extrema novidade, pois só isto explicaria sua brutal ignorância. No terreno da história nada é absolutamente novo.

Se há algo que é muito conhecido para quem não se limita ao presentismo, ou foucaultianamente à aléa singular do acontecimento, é a insurreição, a explosão de massas. Caso tenham preconceitos contra nossa tradição marxista e se recusem a ler as brilhantes análises de Lênin emOs ensinamentos da insurreição de Moscou, ou de Trotski em A arte da insurreição, pode se remeter aos estudos de Freud em  A psicologia de massas e análise do ego, ou a magistral análise de Sartre em  A critica da razão dialética.

As massas explodem em uma dinâmica que altera profundamente o comportamento dos indivíduos isolados que pacificamente se dirigiam diariamente ao matadouro do capital, em ordem, pacificamente, saindo de suas casas humildes, pegando ônibus superlotados e precários, sendo humilhados pela polícia, vivendo de seus pequenos salários, vendo a orgia ostensiva do consumo e tendo que "subviver" com o que não tem.

Os jovens do Movimento Passe Livre (MPL) estão de parabéns por uma luta que não vem de agora (lembremos Goiânia e Florianópolis) e por conseguir dar consistência a esta luta e ao confronto que os levou a dobrar a prepotência dos que afirmavam de início que a tarifa não seria rebaixada. As manifestações contra o aumento da passagem, no entanto, são apenas o desencadeador de algo muito maior. O movimento funcionou como um catalisador de um profundo descontentamento que estava soterrado pela propagando oficial.

Analisemos, então, as determinações mais profundas que se apresentam nesta explosão social.

Em primeiro lugar as manifestações expressam um descontentamento que germinava e que era alimentado pela ação que queria negá-lo, isto é, pela arrogância de um discurso oficial que insistia em afirmar que tudo ia bem: a economia estava bem, não porque garantia a produção e reprodução da vida, mas por que permitia a reprodução do capital com taxas de lucros aceitáveis, o Brasil escapara do pior da crise internacional a golpes de pesados subsídios às empresas monopolistas, a inflação estava "entorno do centro da meta", o Brasil recebia eventos esportivos e se transformava em um canteiro de obras, os trabalhadores apassivados e suas entidades amortecidas pelo transformismo e pela democracia de cooptação se rendiam ao consumo via endividamento, a governo se regozijava com índices de aceitação que pareciam sólidos.

            Acontece aqui um velho e conhecido fenômeno. A vida real não combina com o discurso ideológico. A inflação entorno da meta explodia na hora das compras, de pagar o aluguel, de pagar as contas, de pegar um ônibus. As delicias do consumo voltavam na forma de dívidas impagáveis. O acesso ao ensino vira o pesadelo da falta de condições de permanência. O emprego desejado se transforma em doença ocupacional. O orgulho de receber eventos esportivos internacionais se apresenta na farra do boi de gastos enquanto a educação, a saúde, a moradia, os transportes ficam às moscas.

            O estopim foi o aumento das passagens e aqui se apresenta um elemento altamente esclarecedor. Nas primeiras experiências de governos municipais do PT o enfrentamento da questão do transporte se deu através da municipalização deste serviço. Em São Paulo chegou-se a falar e tarifa zero no governo de Erundina. Em uma segunda geração de governos petistas, todas as empresas municipais foram devolvidas aos empresários que exploravam o setor (e explorar é um termo preciso). Coincidentemente os empresários do transporte se tornaram uma das principais fontes de financiamento das campanhas deste partido.

Entendendo que a explosão é perfeitamente compreensível como forma de manifestação de um profundo descontentamento, sabemos que é mais que isso. Representa, também, o esgotamento de uma forma que tem sido muito eficaz de domínio e controle político. Cultivamos um fetiche pela forma democrática como se ela em si mesmo fosse a solução enfim encontrada pela humanidade para superar um dilema histórico da ordem burguesa que a acompanha desde o nascimento e que não tem solução dentro da sociedade capitalista: o abismo entre sociedade e Estado.

            A sociedade se representa através de políticos eleitos que formam as esferas decisórias, legislativas ou executivas, por meio do voto que transfere o poder para um conjunto de pessoas que supostamente expressam as diferentes posições e interesses existentes na sociedade. Abstrai-se, desta forma, o quanto os reais interesses políticos e econômicos em jogo deformam esta suposta límpida representação resultando na consagração do poder das classes dominantes, confirmando a dura descrição e Montesquieu segundo a qual "a República é uma presa; e sua força não passa do poder de alguns cidadãos e da licença de todos", ou na ainda mais incisiva afirmação de Marx (e depois Lênin): a democracia é o direito dos explorados escolher a cada quatro anos quem os representará e esmagará no governo.

            Desta maneira é compreensível o espanto daqueles que acreditavam que estava tudo bem em uma sociedade marcada pelas contradições da forma capitalista e de sua expressão política, ignorando as profundas e conhecidas contradições que tal ordem gera inevitavelmente.

            Uma contradição, no entanto, encontra sempre uma forma particular para se expressar. A forma como se expressaram as contradições descritas também é perfeitamente compreensível.

            O último período político foi marcado por uma profunda despolitização dos movimentos sociais e dos movimentos reivindicativos da classe trabalhadora. Em dez anos de governo os trabalhadores não foram uma vez sequer chamados a participar ativa e independentemente da correlação de forças políticas em defesa de seus interesses e no terreno que lhe é próprio: as ruas, as praças, a cidade. Optou-se por uma governabilidade sustentada por alianças de cúpula nos limites da ordem política existente e do presidencialismo de coalizão, mantendo seus métodos, isto é, oferta de cargos, liberação de verbas e facilidades. Não é de se estranhar que em dez anos não se tenha implementado uma reforma política.

Em nenhum momento no qual uma demanda das massas trabalhadoras (reforma agrária, previdência, direitos trabalhistas, garantia de serviços públicos, etc.) que se chocava com a resistência dos setores conservadores foi resolvida chamando os trabalhadores a se manifestar e inverter a correlação de forças desfavorável às mudanças. Pelo contrário, via de regra, as soluções conservadoras foram propostas pelo governo que se  pretendia popular e se pedia às massas que se calassem e dessem, como prova de sua infinita paciência, mais um voto de confiança em suas lideranças que deles se alienavam.

Quando os trabalhadores se chocavam com a orientação governista, como na última greve dos professores e dos funcionários públicos federais, são tratados com arrogância e prepotência.

            Por isso, não nos espanta que a explosão social se dê da forma como se deu e traga os elementos contraditórios que expressa: despolitizada e sem direção, ainda que com alvos precisamente definidos: os governos e aquilo que representa a ordem estabelecida.

            A despolitização se expressa de varias formas, mas duas delas se apresentam com mais evidentes: a violência e antipartidarismo. Comecemos pela violência.

            Quanto à forma violenta que tanto espanta os ardorosos defensores da ordem temos que constatar que ela não é homogênea. Há pelo menos três vertentes da violência. Uma delas, difusa e desorganizada, é aquela que expressa a raiva e o ódio contra uma ordem que oprime, não por acaso esta se dirige contra as expressões desta ordem, seja os prédios públicos que abrigam as instituições da ordem política burguesa (sedes de governo, parlamentos, prédios do judiciário, etc.), mas também os monopólios da imprensa, da televisão, assim como os templos do consumo ostensivo. Esta manifestação é compreensível e até, em certa medida, justificada. Marx e Engels, ao analisar a situação alemã de 1850 (Mensagem do Comitê Central à Liga dos Comunistas) dizem a respeito:

 

Os operários não só não devem opor-se aos chamados excessos, aos atos de vingança popular contra indivíduos odiados ou contra edifícios públicos que o povo só possa relembrar com ódio, não somente devem admitir tais atos , mas assumir sua direção.

 

            Deixemos aos patéticos novos defensores da "ordem e da tranqüilidade" a defesa do fetiche do patrimônio público, uma vez que é esta "ordem" é que tem garantido às classes dominantes e seus aliados de plantão a "tranqüilidade" para saquear e depredar o verdadeiro patrimônio público.

            Há uma segunda vertente da violência. Jovens das periferias, dos bairros pobres, das áreas para onde se expulsou os restos incômodos desta ordem de acumulação e concentração de riqueza, que são cotidianamente agredidos e violentados, estigmatizados, explorados e aviltados, que agora, aproveitando-se do mar revolto das manifestações expressam seu legítimo ódio contra esta sociedade hipócrita e de sua ordem de cemitérios. Sua forma violenta em saques e depredações assustam, é verdade, mas a consciência cínica de nossa época passou a assumir como normal as chacinas, a violência policial. Pseudointelectuais chegaram a justificar como normal que a policia entre nas favelas e invada casas sem mandato, prenda, torture e mate em nome da "ordem"; ou seja, a violência só é aceitável contra pobres, contra bandidos, contra marginais, mas é inadmissível contra lixeiras, pontos de ônibus, bancos e vitrines.

            Há uma terceira violência e esta não é espontânea e emocional como as duas primeiras: a extrema direita. Ela, lá dos esgotos para onde foi jogada pela história recente, se sentia também ofendida e agredida, evidente que não pela ordem burguesa e capitalista que sempre defendeu, mas pelo irrespirável ar democrático que acertava as contas com nosso passado tenebroso, como a denúncia contra o golpe de 1964 e seus sujeitos, com as comissões da verdade, mas sobretudo o mal estar desta extrema direta com um regime político que permite a organização dos trabalhadores e sua expressão, mesmo nos precários limites de uma democracia representativa de cooptação. Assim como os movimentos sociais e de classe se despolitizam, a direita também. Para a extrema direita não interessa que a atual forma política permita aos monopólios seus gigantescos lucros e à burguesia sua pornográfica concentração de riquezas. A burguesia que já se serviu da truculência para garantir as condições de acumulação de capital, hoje se serve da ordem e tranquilidade democrática para os mesmos fins e neste contexto não há função clara para seus antigos cães de guarda.

            Estes não suportam nos ver andando com nossas camisetas que lembram nossos mártires, nossas bandeiras que recolhem o sangue de todos que lutaram, nossas firmes convicções que nos mantêm nas lutas diárias ao lado dos trabalhadores em defesa da vida, mas com o olhar certeiro no futuro necessário e urgente que supere a ordem do capital por uma alternativa socialista. Por isso nos atacam, usam das manifestações para acertar suas contas com a esquerda, de forma organizada, intencional e, certamente, com apoio formal ou informal das aparatos de repressão.

            A ação da extrema direita encontra respaldo na despolitização das massas, principalmente na expressão gritante do antipartidarismo. No entanto, neste caso temos que ter cautela ao analisar os fatos. O comportamento contra os partidos é compreensível, ainda que não justificado. Compreensível por dois motivos: as massas, graças a triste experiência petista, estão cansadas de partidos que usam as demandas populares para eleger seus vereadores, deputados e presidentes que depois voltam as costas para estas demandas para fazer seus jogos e alianças para manter em seus cargos; também, acertadamente, não podem aceitar que certos partidos pulem na frente de manifestações e movimentos para tentar dirigi-los sem a legitimidade de ter construído organicamente as lutas.

            Tal atitude, portanto, compreensível, é injustificável pelo fato que ao mirar os partidos de esquerda erra pelo fato que foram os militantes dos partidos de esquerda e dos movimentos sociais que mantiveram no pior momento da correlação de força desfavorável as lutas entorno das demandas populares, por moradia, na luta pela terra, contra a reforma da previdência, contra as privatizações, em defesa da educação e da saúde públicas, contra os gastos com os eventos esportivos, contra as remoções. E o fizeram em um contexto em que as massas estavam submetidas a um profundo apassivamento e no qual o transformismo do PT em partido da ordem isolava a esquerda e a estigmatizava. Neste sentido os partidos de esquerda como o PCB, o PSTU, o PSOL e outras organizações de esquerda, assim como os movimentos sociais e sindicatos, não precisam pedir licença a ninguém para participar de lutas e manifestações sociais, conquistaram legitimamente este direito na luta, com sua coerência e compromisso.

            Para onde vão as manifestações? Alguns ingenuamente, ou de forma interesseira, acreditam que a mera existência da ação independente de massas configura em si mesma um fator positivo de transformação. Infelizmente, a história também nos traz elementos para questionar esta tese, alguns exemplos da história muito recente. Quando da derrocada do leste europeu advinda do desmonte da URSS, muitos saudaram como a possibilidade de uma revolução política que retomasse o rumo interrompido das experiências socialistas, mas o que vimos foi a restauração capitalista. Agora saúdam a chamada "primavera árabe", mas o que temos visto, e a Líbia e o Egito são exemplos paradigmáticos, é o aproveitamento dos monopólios na partilha do botim de países estratégicos isolando mais uma vez os setores populares.

            O sentido e futuro das manifestações estão em disputa e temo em dizer que a esquerda está perdendo esta disputa para um sentido perigosamente de direita e conservador. Recentemente afirmei que a experiência política do último período, ao contrário do que alguns esperavam, havia produzido um desmonte na consciência de classe e  se expressava em uma virada conservadora no senso comum. Este processo ficou evidente nas manifestação, para além da intenção de seus originais promotores. O produto multifacetado das contradições mescla nas manifestações elementos de bom senso e senso comum, criticas difusas às manifestações mais evidentes da sociabilidade burguesa em que estamos inseridos ao lado de reafirmações de valores próprios desta mesma ordem, o que seria natural se entendermos o processo de despolitização descrito.

            Quando os adeptos do espontaneismo alardeiam a virtude de uma manifestação sem direção e que hostiliza partidos se esquecem é que se você não tem uma estratégia, não se preocupe, você faz parte da estratégia de alguém. Além da evidente eficiência dos monopólios da comunicação, o "partido da pena" nos termos de Marx, em pautar o movimento selecionando as bandeiras que interessa à ordem (luta contra a corrupção, nacionalismo, diminuição de impostos, etc.), outros elementos muito perigosos se apresentam.

            Um cartaz na manifestação no Rio dizia: se o povo precisar as Forças Armadas estão prontas para ajudar. Significativamente os militantes antipartido não destruíram esta faixa, talvez porque não sabem que existe além do partido da pena o "partido da espada".  Em nota dos clubes militares da marinha, exército e aeronáutica, os militares depois de afirmar que as manifestações expressam majoritariamente a indignação com o descaso das autoridades com as aspirações da sociedade e que diante da dos vícios e omissões que se repetem chegou a hora de se "manifestar clamorosamente" e não aceitar "ser conduzido, resignadamente, como grupo ingênuo" dando "um basta à impostura e à impunidade". A nota dos militares termina com uma clara provocação e cita Vandré: "quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

            A direita só germina e cresce no vazio deixado pela esquerda. A ilusão de um desenvolvimento capitalista capaz de resolver as demandas populares e garantir lucros aos capitalistas, sustentado por um governo de coalizão com a burguesia desarma os trabalhadores e a direita ocupa o terreno. Há um evidente cheiro de golpe no ar. A embaixadora dos EUA que estava na Nicarágua na época dos contras, na Bolívia quando da tentativa de dividir o pais, no Paraguai quando do golpe contra Lugo, chegou ao Brasil.

            Ao prefaciar o livro sobre de Leandro Konder sobre o fascismo republicado em 2009, dizia alertando para a atualidade do risco desta alternativa contra aqueles que achavam que este fenômeno estaria condenado ao passado:

 

Capital monopolista em crise, imperialismo, ofensiva anticomunista, criminalização dos movimentos sociais, decadência cultural, hegemonia da política pequeno-burguesa em detrimento da política revolucionária do proletariado, irracionalismo, neo-positivismo, misticismo, chauvinismos nacionalistas acompanhados ou não de racismo... Não se enganem. Só posso alertar, como certa feita o fez Marx: "esta fábula trata de ti".

 

            A explosão de massas deu o recado: olha só meu coração, ele é um pote até aqui de mágoa, qualquer desatenção, faça não... pode ser a gota d'água.

 

*Mauro Iasi é professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, presidente da ADUFRJ, pesquisador do NEPEM (Núcleo de Estudos e Pesquisas Marxistas), do NEP 13 de Maio e membro do Comitê Central do PCB. É autor do livro O dilema de Hamlet: o ser e o não ser da consciência (Boitempo, 2002). 


Colabora para o Blog da Boitempo (Fonte desse texto) mensalmente, às quartas.



terça-feira, 25 de junho de 2013

I JORNADA INTERNACIONAL TEATRO DO OPRIMIDO E UNIVERSIDADE

UNIRIO – UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

I JORNADA INTERNACIONAL
TEATRO DO OPRIMIDO E UNIVERSIDADE
Prática e teoria


PPGAC - Programa de Pós-Graduação de Ensino de Artes Cênicas
PPGEAC - Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas
NEPAA – Núcleo de Estudos da Performance Afro-ameríndia
G_E_S_T_O - Grupo de Estudos de Teatro do Oprimido/NEPAA
Escola de Teatro do Centro de Letras e Artes

05 de julho de 2013

Escola de Teatro da UNIRIO
Avenida Pasteur, 436/fundos – URCA
Rio de Janeiro, RJ - Brasil
Sala Prática 301 e Sala de Vídeo (4º andar)

Informações:
0 xx 55 21 93397368 – Licko Turle
0 xx 55 21 88956785 - Flavio Sanctum
0 xx 55 21 2542 3162 – GESTO/NEPAA/UNIRIO

Organizadores:
Zeca Ligiero – PPGAC/UNIRIO - Coordenador do NEPAA e ITI-UNESCO da América Latina
Licko Turle – Pesq. Pós-Doc. CAPES/FAPERJ/PPGAC/UNIRIO e ITI-UNESCO/Brasil
Flávio Sanctum – Doutorando PPGAC/CNPq ou CAPES? e integrante do CTO

Realização:
GESTO/NEPAA ou PPGEAC PPGAC

Apoio:
Centro de Teatro do Oprimido

Produção:
Aldeia Casa Viva

Logos:
UNIRIO, FAPERJ, NEPAA, GESTO, CTO, Escola de Teatro, ITI/UNESCO e ITI/BR



I JORNADA TEATRO DO OPRIMIDO E UNIVERSIDADE
Teoria e prática

A I Jornada Teatro do Oprimido e Universidade é um evento acadêmico que pretende observar e refletir sobre os estudos e aplicação como recurso pedagógico na universidade brasileira, quae sera tamen, da metodologia criada por Augusto Boal (1931-2009) - dramaturgo, diretor teatral, professor, político e teatrólogo.
Permanecendo por dois anos na UNIRIO, o Acervo Boal pode ser catalogado e organizado pelo NEPAA com o apoio da FAPERJ, auxiliando diversas pesquisas – Trabalhos de Conclusão de Curso, Dissertações e Teses - sobre o tema. Atualmente, o mesmo encontra-se na UFRJ em consórcio com a UNIRIO para ser digitalizado e disponibilizado em meio digital. Esta curta permanência gerou, também, diferentes cursos, tanto na graduação, quanto na pós-graduação como, o estudo da obra dramatúrgica de Augusto Boal na disciplina LED – Leitura Dramatizada; e os cursos Augusto Boal: Arte, Política e Pedagogia (2011) ofertada para alunos do PPGAC e, este ano, Do distanciamento de Bertold Brecht ao Teatro do Oprimido de Augusto Boal- poéticas políticas no curso do Mestrado Profissional do PPGEAC.
Os estudantes e pesquisadores do NEPAA criaram, também, um grupo de estudos sobre o Teatro Oprimido – o GESTO, com a missão de difundir as ideias e pensamentos boalianos sobre as funções sociais, educativas, terapêuticas, políticas e artísticas do seu método – hoje praticado em mais de setenta países. Para sua consecução, oferece oficinas teatrais, cursos de extensão, palestras e acompanhamento de projetos para alunos, funcionários e professores da UNIRIO, como, por exemplo, o atendimento ao Departamento de Recursos Humanos, através de alunos bolsistas.
O GESTO/NEPAA receberá, em julho, a visita de duas universidades norte-americanas: a Duke University e a South Califórnia University. A primeira tem interesse em conhecer a cultura e a teatralidade nacional através da pesquisa Outro Teatro, coordenada pelo professor Zeca Ligiero, que tem como foco as modalidades teatrais não-ortodoxas como as performances culturais e religiosas afro-ameríndias (dança, música, teatro, oralidade), teatro de rua, teatro do oprimido...  A segunda irá fazer um curso de formação no Centro de Teatro do Oprimido, com os curingas, Flávio Sanctum, doutorando do PPGAC e Helen Sarapeck - a aluna especial do Mestrado Profissional/PPGEAC. 
Mesmo com esta extensa gama de atividades de Teatro do Oprimido na UNIRIO, o grupo de estudos resolveu convidar pesquisadores de outras instituições de ensino superior para participarem deste intercâmbio de informações e comunicações sobre esta modalidade e os seus diferentes usos e aplicações propiciando, desta forma, um dia de diálogos fecundos e demonstrações de trabalho entre os dois países, ao qual denominamos, aqui, de I Jornada Teatro do Oprimido e Universidade: Teoria e prática.



PROGRAMA


SALA PRÁTICA 301 – Escola de Teatro
10:00h -– Oficina aberta e gratuita com os pós-graduandos da University of South of California (EUA), , GESTO/UNIRIO e Centro de Teatro do Oprimido - alunos do PPGAC e da Duke University (EUA)

SALA DE VÍDEO – Escola de Teatro
14h Abertura
Vice-reitor - Dr. José Da Costa
Coodenador do PPGAC - Dr. André Gardel
Coordenador do PPGEAC - Dr. Paulo Merísio

14:10h Palestra: Augusto Boal: Arte, Pedagogia e Política com o prof. Dr. Zeca Ligiero

14:30h às 16:30h – Bloco 01
Dr. Paolo Victoria - UFRJ
Ms. Natalia Fiche – Teatro na Prisão/UNIRIO
Pós-graduando da South Califórnia University
Mediador: Ms. Flavio Sanctum – PPGAC-UNIRIO/CTO (CAPES - doutorando)

16:30h Café

17:00h às 19:00h – Bloco 02 (Colocar título ou tema)
Drª Alessandra Vanucci - UFOP/PUC-RJ
Ms. Clarisse Lopes – Universidade Estácio de Sá
Alice Nunes - UNESP
Pós-graduando da University of South of Califórnia
Mediador: Dr. Licko Turle – Pesquisador PPGAC/UNIRIO/CAPES-FAPERJ

19h Sarau NEPAA com grupo Rio Mouane Dança Teatro, direção Drª Denise Zenícola.
Local: Espaço NEPAA (redondo)


21h Encerramento

segunda-feira, 24 de junho de 2013

LEI 15.776/13 - artistas de rua de São Paulo

LEI Nº 15.776, DE 29 DE MAIO DE 2013

(Projeto de Lei nº 489/11, dos Vereadores Alfredinho - PT, Floriano Pesaro - PSDB, Jamil Murad – PC do B, José Police Neto - PSD, Netinho de Paula – PC do B, Ítalo Cardoso – PT e Orlando Silva – PC do B)

Dispõe sobre a apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos do Município de São Paulo, e dá outras providências.

FERNANDO HADDAD, Prefeito do Município de São Paulo, no uso das atribuições que lhe são conferidas por lei, faz saber que a Câmara Municipal, em sessão de 7 de maio de 2013, decretou e eu promulgo a seguinte lei:

Art. 1º As apresentações de trabalho cultural por artistas de rua em vias, cruzamentos, parques e praças públicas deverão observar as seguintes condições:

I – permanência transitória no bem público, limitando-se a utilização ao período de execução da manifestação artística;

II – gratuidade para os espectadores, permitidas doações espontâneas e coleta mediante passagem de chapéu;

III – não impedir a livre fluência do trânsito;

IV – respeitar a integridade das áreas verdes e demais instalações do logradouro, preservando-se os bens particulares e os de uso comum do povo;

V – não impedir a passagem e circulação de pedestres, bem como o acesso a instalações públicas ou privadas;

VI – não utilizar palco ou qualquer outra estrutura sem a prévia comunicação ou autorização junto ao órgão competente do Poder Executivo, conforme o caso;

VII – obedecer aos parâmetros de incomodidade e os níveis máximos de ruído estabelecidos pela Lei nº 13.885, de 25 de agosto de 2004;

VIII – estar concluídas até as 22:00 h (vinte e duas horas); e

IX – não ter patrocínio privado que as caracterize como evento de marketing, salvo projetos apoiados por lei municipal, estadual ou federal de incentivo à cultura.

Art. 2º Compreendem-se como atividades culturais de artistas de rua, dentre outras, o teatro, a dança individual ou em grupo, a capoeira, a mímica, as artes plásticas, o malabarismo ou outra atividade circense, a música, o folclore, a literatura e a poesia declamada ou em exposição física das obras.

Art. 3º Durante a atividade ou evento, fica permitida a comercialização de bens culturais duráveis como CDs, DVDs, livros, quadros e peças artesanais, desde que sejam de autoria do artista ou grupo de artistas de rua em apresentação e sejam observadas as normas que regem a matéria.

Art. 4º O Poder Executivo regulamentará esta lei no prazo de 60 (sessenta) dias a partir de sua publicação.

Art. 5º As despesas decorrentes da execução desta lei correrão por conta de dotações orçamentárias próprias, suplementadas, se necessário.

Art. 6º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, aos 29 de maio de 2013, 460º da fundação de São Paulo.

FERNANDO HADDAD, PREFEITO

ANTONIO DONATO MADORMO, Secretário do Governo Municipal

Publicada na Secretaria do Governo Municipal, em 29 de maio de 2013.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Relato sobre a apresentação quase proibida

Relato


No dia 31 de maio,
Arrepare o acontecido,
Na Praça do Ferreira
Tal fato foi ocorrido.
A cidade, importante dizer,
É Fortaleza, capital
De meu estado natal.

Eis a história crua
Desse drama verídico
Envolve teatro de rua
Em um caso jurídico.

Sem posse de autorização
Para na praça apresentar,
Pois nossa Constituição
Deveria assegurar
O direito de ir e vir
Bem como o livre expressar,
Seguimos para o lugar.
Descarregamos o material
Logo veio a fiscalização.
Conversa vai, conversa vem
Soubemos da proibição.
O fiscal, muito legal,
Entendeu a situação
Mas nada pode fazer
Por ser do baixo escalão
Levou-nos a sua chefia,
Que não quis nos receber:
- Ator de rua e de bermuda,
Não quero nem saber.

Após vestir roupa apropriada
Seguimos nós três: Edson, Selma e eu,
Para falar com a malcriada.
 Veja o papo como se deu:
- Em Fortaleza não pode.
- E como fica a Constituição?
- Não me deixe ainda mais de bode...
- Só queremos fazer nossa apresentação.

Depois de um diálogo truncado
Sem nada mais por fazer
Só nos restou ameaçar:
- Vamos ao público da praça dizer
Que mesmo com recurso federal
Apresentação não ia ter,
Pois vocês impediram as pessoas
Um momento de lazer.

Tudo isso era registrado,
Quase trinta minutos
No celular estava gravado.
E as autoridades, ali como matutos,
Sem nada saber.
A astúcia é valida para
O nosso direito valer.

Depois de muito bate boca
Veio, entretanto, a decisão,
O moço de olho vesgo
Mudou a sua opinião.
Era o chefe do departamento,
Veio e deu a sua ordem:
- Faça a autorização que eu assino.
Evitando, assim, maior desordem.

Essa foi a primeira vez
Que quase fui impedido
De na rua apresentar.
Fiquei bastante ofendido,
Amargurado da vida,
Pois tal fato se deu
Em minha terra querida,
O meu lindo Ceará.

Adailton Alves